Entrevista da Fernanda Garay ao R7

Ela chegou na seleção discretamente. Primeiro, um convite para treinar. Depois, as contusões de Mari e Paula Pequeno deram a Fernanda Garay a chance de disputar o Campeonato Mundial de vôlei, no ano passado. Ela, porém, apenas compôs elenco na campanha que culminou com a derrota para a Rússia na seleção, mas o que parecia apenas uma oportunidade passageira virou uma nova convocação para a temporada 2011.

Coincidentemente, novas lesões de Mari e Paula deram uma nova oportunidade à gaúcha de 25 anos, que tratou de aproveitá-las: sem descuidar da eficiência no ataque, ganhou o prêmio de melhor passe da competição. Provocou, assim, uma nova "dor de cabeça" para o técnico José Roberto Guimarães, que, além de Mari e Paula, conta com Jaqueline, Natália e Sassá disputando as duas vagas de ponteiras titulares.

Nesta conversa exclusiva com o R7, Fernanda falou sobre essa nova fase da carreira, na qual começa a se acostumar com a fama de ser uma jogadora da seleção. Após o jogo contra o Japão na fase final do Grand Prix, o nome da atleta chegou a figurar entre os mais comentados do Twitter brasileiro, algo que a assustou a agora jogadora do Vôlei Futuro de Araçatuba. Focada, ela quer continuar "incomodando" o sossego de Zé Roberto e evita uma comparação que já começa a surgir com Marcia Fu, uma das estrelas da geração brasileira dos anos 90.

Confira a entrevista abaixo:

R7 - Você teve um desempenho muito bom no Grand Prix. O que você fez para não sentir a pressão de estar na seleção em um momento complicado, com a Mari e a Paula Pequeno lesionadas?

Fernanda Garay - Primeiro é trabalho, a parte da preparação, de estar treinando em um nível muito bom lá com as meninas. E também acreditar que eu sou capaz: se eu entro em quadra duvidando disso, já começa errado. Então tenho que entrar concentrada e confiante de que as coisas vão dar certo. E depois tem o apoio do grupo, que é fundamental: elas estão ali me passando confiança e isso faz com que as coisa fluam naturalmente. Não fico pensando em coisas ruins, somente em ações boas.

R7 -  Então não deu um nervosinho na barriga quando você viu que era você quem tinha que resolver o negócio na seleção?

Garay -
Ah, claro que dá!! Certeza. Só de fazer parte daquele grupo, de estar jogando com adversárias do nível que a gente jogou já dá aquele friozinho na barriga. Não tem nenhuma jogadora que não sinta isso e eu não sou diferente. Mas o meu foco não pode ser esse. Eu sinto o contrário: que vai dar certo, que o time está bem preparado, está bem treinado e também merece a vitória.

R7 - Você jogou muito pouco no Mundial 2010, mas o que a experiência de ter estado lá te trouxe de bom? 

Garay -
A primeira coisa foi estar no grupo e já estar participando de uma competição super importante, onde o grupo estava muito focado e treinando muito. Ter participado desse momento foi bom porque agora já é mais natural, pois já passamos por aquela dificuldade, aquela final que a gente perdeu para a Rússia. Eu já me sinto muito mais no grupo, então mesmo que tenha sido pouco tempo, fez com que eu me sentisse mais à vontade desta vez. Não só por isso, mas também a experiência de ter estado em um campeonato mundial, em busca de uma medalha que a gente nunca havia conquistado. Isso tudo me fez crescer muito. Naquele momento, eu não tive oportunidade. Hoje, eu já estou tendo. Isso também é um processo. Só tive essa nova oportunidade porque eu estava lá, vivenciei aquele momento.

R7 - O que você achou de mais diferente entre o Mundial e o Grand Prix?

Garay -
As viagens, isso desgasta bastante. É bem puxado estar a cada semana em um lugar porque quando você começa a se adaptar com a comida, com o hotel, com o ginásio, você já tem que mudar. Jogamos na sexta, sábado e domingo e, na segunda, que seria o nosso dia de folga, temos que viajar. No Mundial, as viagens são mais curtas e há muitos jogos perto um do outro. Então, o foco é maior no jogo, o próximo adversário a ser batido. Essa é a principal diferença.

R7 - Foram 30 dias fora ao todo. Imagino que você já devia estar louca para voltar ao Brasil...

Garay -
É um desgaste grande que a gente tem, pois focamos toda a nossa energia no campeonato. Então, quando você volta, quer sua casa, sua cama, sua família, isso é natural. Eu me senti do mesmo jeito de quando eu voltei do Japão (onde jogou na última temporada), apesar de ter sido só um mês. (risos)

R7 - Então você não quer nem saber mais de avião?

Garay -
Ah, eu quero! Não posso falar que eu não quero pois pretendo continuar com a seleção, participar das próximas competições, como o Sul-Americano, no Peru, o Pan de Guadalajara... então, eu tenho que querer mais viagens! Não tem jeito, são os ossos do ofício. Sempre falo para o meu namorado: eu queria ter uma máquina de teletransporte, para poder voltar para casa um pouquinho depois de cada jogo (risos).

R7 - E esta briga pelas vagas entre as ponteiras? É muita gente para poucos lugares...

Garay - Eu acho isso muito bom, principalmente por eu estar contribuindo com esta briga. Essa disputa faz parte e a seleção brasileira só tem a ganhar com isso. Quem está lá sempre vai ter que buscar mais e mais, então todos ganham com isso: as jogadoras por buscar crescimento e a seleção por aumentar o nível das ponteiras.

R7 Mas que você colocou uma bela dor de cabeça para o Zé montar o time para as próximas competições, você colocou...

Garay -
(risos) Não tenho como prever o que ele vai fazer, né? O meu papel, que é colocar essa duvidazinha na cabeça dele, eu estou conseguindo fazer. Eu busco sempre o melhor desempenho. Quando olho uma quadra, quero contribuir ao máximo, não só no jogo, mas também nos treinamentos. Mas isso é um processo e eu não sei o que ele pensa, quais são os critérios que ele vai usar se precisar cortar alguém. O futuro a Deus pertence e, se tiver que sair alguém, paciência. Tenho que pensar em fazer o meu máximo. Se mesmo assim, eu for cortada, ficarei triste, mas não era o momento. E vou continuar esperando o próximo momento.

R7 - Você acha que leva desvantagem por ter sido a última a chegar na seleção?

Garay -
Não, acho que isso não é desvantagem. É um tijolinho de cada vez. Tenho que pensar que isso faz parte de um processo. Às vezes, ele tem uma confiança maior em outra jogadora que já faz parte da equipe há muito tempo do que eu que estou chegando agora, então tenho que pensar em construir essa confiança, não só com o Zé Roberto, mas também com as outras jogadoras. Não adianta eu ter um bom momento agora e ficar nisso. Agora, tenho que pensar em manter essa boa fase para alcançar lugares maiores.

R7 - Você ganhou o prêmio de melhor passadora, uma deficiência crônica da seleção. Foi feito um trabalho específico contigo neste fundamento?

Garay - Não. Essa é uma coisa que a seleção já se preocupa, já está em alerta com relação a isso. Claro que eu me preocupo muito, pois ponteira tem que passar, tem que defender, tem que sacar, tem que fazer de tudo. A gente não sai da quadra em nenhum momento. Na hora do treino, eu fico muito focada até porque no Japão eu não passei muito, pois para eles o meu principal fundamento era o ataque. Se eles pudessem me deixar fora do passe, eles deixavam, o que aconteceu em muitos momentos. Não era oposta, mas quando estava no fundo eu já ficava fora do passe, pronta para atacar. Quando eu voltei, eu tinha essa preocupação específica com o passe, mas era uma coisa minha, mas não fiz nada a mais que as outras meninas da seleção fizeram.

R7 - Agora que você é uma jogadora de seleção, aumentou muito o assédio? O que mudou na sua vida?

Garay - A verdade é que eu não consegui senti muito isso. Cheguei em casa na terça e fiquei o tempo todo dentro de casa mesmo. Na quarta, já fui para Araçatuba. Aqui, as pessoas já estavam muito ansiosas pela minha vinda, mas não sei se é por eu ser a Fernanda ou por ser mais uma jogadora que está vindo para o Vôlei Futuro. Na cidade, as pessoas respiram voleibol e são muito receptivas, então não sei se te falar se mudou por conta desse último campeonato ou se as pessoas aqui já têm essa atitude diferente, de ir ao ginásio até para ver treinos.

R7 - Mas seu nome chegou a estar entre os mais comentados no Twitter brasileiro e você até criou uma conta recentemente. Isso já dá um impacto, não?

Garay - Muito. Eu sempre fui muito desligada com essas coisas de internet. Eu tenho meu e-mail, mas nunca fico atrás de notícias, das coisas... e por coincidência eu fui convencida a fazer um Twitter uma semana antes. E até agora eu estou apanhando um pouquinho. Eu não sabia a dimensão de um Twitter, como funcionava, como as pessoas ficam comentadas. Aí na semana da fase final, tinha os TT, TTs? (refere-se ao Trending Topics, os assuntos mais comentados do momento) (risos) Daí, eu estava aprendendo e olhei: "Ué, mas por que o meu nome está aqui embaixo?" E fui perguntar.. nossa, fiquei muito surpresa, pois não fazia ideia e todo mundo comentou, recebi muitos recados, inclusive de amigos: "Nossa, como assim? Você está falada!!" Foi um momento legal, acho que mais por eu estar descobrindo!

R7 - E as outras jogadoras da seleção brincaram bastante com este fato?

Garay - Então, eu te falo que a gente nem comentou. Estamos tão focadas na competição, pois vi naquele momento depois do jogo e nem lembrei mais. Também a gente nem pode dar a isso uma importância maior do que tem. Eu achei muito legal, mas não fiquei pensando só nisso. Tenho que pensar é em ganhar e jogar bem. Se as pessoas comentam bem, que ótimo, mas o meu
foco não pode estar nisso. 

R7 - Nesses comentários, algumas pessoas te comparavam com a Marcia Fu. Você ficou sabendo disso? Se inspira nela?

Garay -
Já, mas infelizmente eu não vi a Marcia Fu jogar. Por isso, não tem nem como eu me comparar. As pessoas têm suas opiniões e falam mesmo, mas não dou tanta importância, pois acho que eu sou eu mesma, tenho as minhas características... Se compararem coisas boas, maravilha, mas não tenho essa referência porque não a vi jogando. Claro que tivemos grandes jogadoras que a gente pode seguir seguir, mas tenho que buscar o meu melhor e não tentar buscar algo que os outros tenham.


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