Mesclar juventude e experiência não é a máxima que cabe na receita de Ricardo e Emanuel, com 39 e 41 anos, respectivamente. Dez anos após a maior glória de suas carreiras, o ouro olímpico em Atenas 2004, os veteranos reeditaram a parceria de sucesso em busca de mais um pódio para o Brasil nas Olimpíadas do Rio, em 2016. E a volta não poderia ter sido melhor. Sob forte calor em um dia ensolarado na Praia de Camburi, em Vitória, eles mostraram uma impressionante evolução e conquistaram o título da etapa de abertura do Circuito Brasileiro 2014/2015, provando que a parceria promete trazer ainda muitas alegrias aos brasileiros no futuro. Na final, eles derrotaram de virada os atuais vice-campeões da última temporada por 2 sets a 1, com parciais de 19/21, 21/18 e 16/14. O carioca Evandro e o paraibano Vitor Felipe conquistaram a medalha de bronze ao derrotarem Pedro Solberg e Álvaro Filho por 2 sets a 1 (21/13, 18/21 e 15/9).
Uma multidão de torcedores se aglomerou no entorno da arena para ficar mais perto das duas lendas do esporte. Nem mesmo na área reservada para os atletas, eles tiveram sossego. Todos queriam registrar o momento histórico, seja com autógrafos ou pedidos de foto.
- Estou muito contente, já na semifinal eu estava muito contente pelo que nós jogamos. Mas o que mais me deixou feliz foi ver que as pessoas envolvidas com o vôlei adoram a nossa dupla. O carinho que recebemos na arena, as pessoas que trabalham aqui, os árbitros e outros funcionários, fazem com que a gente tenha muito orgulho do que a gente faz. Não tem como eu entrar ali e não dar o meu 100%. Toda essa energia que eu recebi não tem preço, e essa final foi espetacular - disse Emanuel, o maior vencedor da modalidade, com 153 títulos.
O público que lotou a arquibancada no cartão-postal da "Ilha do Mel" vibrou com a conquista dos ídolos, comemorando a cada ponto. Empolgado na hora de celebrar o título, Ricardo acabou tropeçando e foi atendido por médicos ainda na quadra, mas logo se recompôs. Conhecido no exterior como "Block Machine" ("Máquina de Bloqueio") e "Muralha" no país, o baiano radicado há 17 anos em João Pessoa (PB) foi eleito o melhor do torneio.
Juntos de 2002 a 2009, Ricardo e Emanuel foram campeões das principais competições da modalidade: além do ouro em Atenas, foram bronze nas Olimpíadas de Pequim 2008, ouro no Campeonato Mundial de 2003 e nos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro (2007). Faturaram ainda três títulos do Circuito Brasileiro (2006/2003/2002) e cinco títulos do Circuito Mundial (2007/2006/2005/2004/2003).
Separado de Alison desde o início deste ano, Emanuel estava jogando ao lado de Pedro Solberg. Ricardo, campeão da temporada 2013/2014 do Circuito Brasileiro ao lado de Márcio, era parceiro de Álvaro Filho no Circuito Mundial. Juntos, o baiano e o jovem paraibano foram vice-campeões mundiais de 2013.
O jogo
Os campeões olímpicos ditaram o ritmo de jogo no primeiro set. Apesar de terem os rivais sempre na cola, eles tiveram tranquilidade para marcar ponto atrás de ponto, explorando os bloqueios e se defendendo bem até o fim da parcial, quando acabaram levando a virada. Hevaldo soltou o braço e fez: 18/16. Com um ataque matador, Bruno chegou ao set point. Na sequência, Hevaldo não deu chance ao azar. Com categoria, o cearense bloqueou Ricardo para fechar a parcial em 21/19.
Ricardo e Emanuel voltaram vibrantes no segundo set e controlaram as ações, pressionando os rivais. Um bloqueio de Ricardo e um ace de Emanuel colocou a "dupla de ouro" na frente: 5/3. Sacando bem, eles dificultavam o passe dos adversários, que não conseguiam se encontrar em quadra: 8/3. Eficientes na defesa e no ataque, os veteranos mostraram que dificilmente iriam deixar os rivais encostarem no placar. No paredão de Ricardo, o "Block Machine" ("Máquina de Bloqueio"), a dupla abriu seis pontos de diferença: 12/6. Em momentos decisivos, os veteranos foram, aos poucos, ampliando a vantagem: 18/15. A disputa ficou ainda mais acirrada no fim, com ralis emocionantes, levantando a torcida. Depois de uma grande defesa de Ricardo, Emanuel atacou de segunda fez 21/18, levando a decisão para o tie-break.
A tônica se manteve a mesma na etapa decisiva. O clima esquentou dentro e fora da quadra, e o que se viu foi um show de belas jogadas e intensos ralis na Praia de Camburi. O futuro era incerto. Ricardo bloqueou Hevaldo duas vezes seguidas e virou o placar: 7/5. Os vice-campeões brasileiros reagiram. Hevaldo soltou o braço e encostou: 9/8. Na diagonal, Emanuel ampliou: 12/10. Depois de ser bloqueado por Ricardo, Hevaldo teve paciência, se recuperou e deu o troco no baiano, arrancando o empate suado: 12/12. Bruno acertou uma linda bola no fundo da quadra e assumiu a liderança: 13/12. Os veteranos deixaram tudo igual. Ricardo atacou no meio dos adversários e teve o match point: 15/14.
A glória veio depois de mais um rali. Hevaldo soltou o braço e Emanuel respondeu com uma defesa espetacular, tocando com a ponta dos dedos. A bola caiu na linha e surpreendeu os rivais, que não tiveram chances de defesa. Um retorno com chave de ouro para a melhor dupla da história do país
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